sellers discretionary earnings

Você já ouviu falar em Seller’s Discretionary Earnings (ou SDE, na sigla)? Sabe como fazer valuation através do Método dos Ganhos Discricionários? Se nunca ouviu falar nesses termos, ou até já ouviu, mas não sabe o que eles significam, então este é o último artigo que você vai precisar ler sobre o assunto.

O SDE, ou método dos ganhos discricionários em português, é um dos mais usados métodos de valuation de pequenas empresas nos Estados Unidos e também outros países. Ou seja, é um poderoso aliado de quem quer comprar negócios de pequeno porte, mas também de quem quer vendê-lo.

Também é uma ferramenta muito útil para quem trabalha com valuation ou para quem está na área contábil e quer ajudar a colocar as contas de um cliente em ordem, seja para uma aquisição, seja para uma fusão ou qualquer outro processo.

Se você deseja aprender o que é Método dos Ganhos Discricionários e compreender como essa ferramenta de valuation para pequenas empresas funciona, siga a leitura do texto abaixo com bastante atenção!

O que é Seller’s Discretionary Earnings (SDE)?

Para entender o que é Método dos Ganhos Discricionários (às vezes chamada no Brasil de renda efetiva do sócio), devemos primeiramente compreender o que é SDE, Seller’s Discretionary Earnings. Afinal, o segundo é peça central da utilização do primeiro.

SDE é uma métrica financeira e contábil usada para avaliar o verdadeiro benefício de ser o dono de um determinado negócio.

Em outras palavras, essa métrica apresenta o potencial de ganhos de uma empresa de dono único, que trabalha no negócio. Com base nessa métrica, é possível entender o potencial de ganho de uma pequena empresa considerando diferentes métodos de pagamentos via pró-labore, gestão fiscal e mais.

Como calcular o SDE?

Para calcular o SDE de uma empresa, é necessário saber o seu EBITDA (vamos conversar sobre isso mais para frente) e adicionar a ele o salário ou pró-labore pago ao dono do negócio, além de benefícios e outras despesas não essenciais, não recorrentes e não relacionadas (por exemplo, viagens do dono, consultorias únicas, uso de veículo da empresa, etc.)

Ou seja:

SDE = EBITDA + pró-labore/salário do dono + despesas não essenciais, não recorrentes e não relacionadas.

Vejamos um exemplo a seguir:

Suponha que um pequeno negócio de venda de livros registrou um EBITDA de R$250 mil em um ano.

Ao mesmo tempo, seu dono retirou um pró-labore de R$3.500 por mês, além de um benefício de plano de saúde no valor de R$1.500. 

Para completar, ele ainda pagou por uma consultoria única de marketing no valor de R$5.000 e por uma viagem para um congresso com outros empreendedores da área, no valor de R$10.000.

Assim, podemos calcular seu SDE como:

  • SDE = R$250 mil + ((R$3.500+R$1.500)*12) + R$5.000 + R$10.000;
  • SDE = R$325 mil.

Por Que o SDE é Importante?

O SDE é usado especialmente durante o Método dos Ganhos Discricionários do Vendedor, uma forma de valuation exclusiva para pequenas empresas.

Nesse método de valuation, usamos o SDE para entender qual é a capacidade de receita potencial verdadeira que um negócio de pequeno porte pode gerar — e compará-la com a de outras empresas semelhantes.

Quando falamos em “receita potencial verdadeira”, afirmamos isso com base nos seguintes motivos:

  • O proprietário pode estar utilizando o cartão de crédito da empresa para pagar despesas pessoais que não tem relação a sua atividade profissional;
  • Seu pró-labore pode ser muito mais alto do que a média do mercado (somente por ele ser o proprietário) – e caso a empresa fosse vendida, um administrador poderia ser contrato pelo salário compatível. E a empresa em tese geraria mais lucro;
  • A empresa pode não estar sendo bem administrada ou o dinheiro pode estar indo para pagar despesas não tão importantes ao negócio.

Por isso é tão interessante utilizar o método dos ganhos discricionários (renda efetiva do sócio), pois apesar da empresa talvez não demonstrar um resultado bom, ao calcular o SDE, a realidade pode ser muito melhor.

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Quando usar o SDE?

Afinal, ao entendermos o SDE, podemos projetar uma receita com base em mudanças organizadas na gestão.

Por exemplo, suponha que você prefira receber um pró-labore de apenas R$2.000 e sem plano de saúde, em vez do pró-labore de R$3.500 + R$1.500 de plano de saúde como no exemplo anterior. Nesse caso, aproximadamente R$2.500 por mês (R$30 mil no ano) deixariam de ser gastos discricionários e seriam transformados em lucro.

No entanto, é importante ter em mente que, em alguns casos, é natural que haja algum debate sobre os gastos que são inseridos na hora de calcular o SDE.

Afinal de contas, o que uma pessoa pode considerar um gasto não recorrente, na verdade pode ser um gasto recorrente para outra.

Por exemplo, uma consultoria de marketing pode ser vista como algo pontual em uma gestão, mas outra pode considerar necessário manter essa despesa recorrente. Ou um plano de saúde de um familiar que sequer trabalha na empresa.

Já ouviu falar de uma história parecida? Pois é.

Considerando que o SDE é majoritariamente utilizado apenas no valuation de pequenas empresas durante o processo de aquisição, é natural que haja um acordo entre as partes para definir quais despesas devem ser colocadas nessa conta.

SDE x EBITDA: qual a diferença?

É comum que muitos empreendedores confundam os conceitos de SDE e EBITDA, especialmente porque ambos são usados no processo de valuation de Pequenas e Médias Empresas.

No entanto, é vital ter em mente que as duas métricas financeiras representam valores diferentes dentro de um negócio e devem ser utilizadas apenas nos casos em que são recomendadas.

Para entender melhor a diferença entre elas, vejamos a seguir a definição de EBITDA e quando essa métrica é mais indicada para a avaliação do valor de um negócio.

EBITDA é uma sigla que vem de Earnings Before Interest, Taxes, Depreciation, and Amortization (em português, Lucros Antes de Juros, Impostos, Depreciação e Amortização).

Como o próprio nome já indica, essa métrica mede o lucro da empresa antes de ter de pagar certos gastos financeiros e contábeis, como seus impostos, juros de empréstimos realizados, a depreciação do seu maquinário e potenciais amortizações realizadas.

Dessa forma, é possível entender a capacidade de gerar lucro do negócio e o seu potencial para aproveitá-lo sob as corretas condições.

A fórmula para calcular o EBITDA é:

EBITDA = Lucro operacional líquido + Depreciações + Amortizações

Quando usar o EBITDA?

O EBITDA deve ser considerado no valuation de médias e grandes empresas, uma vez que apresenta algumas informações importantes para entender a capacidade do negócio de se sustentar apenas com sua performance no mercado.

Durante o processo de aquisição de médias empresas, por exemplo, o EBITDA pode guardar informações essenciais para empreendedores e empresários.

Por exemplo, ao analisar e contextualizar o EBITDA de uma empresa, é possível projetar lucros e analisar o potencial de ganhar ainda mais nos próximos anos.

Imagine uma empresa que tenha um EBITDA anual de R$2 milhões, mas que tenha de pagar altas parcelas de um empréstimo (algo como R$1,2 milhão entre juros e amortizações), além de estar em um regime fiscal que consome mais R$300 mil.

No total, essa empresa tem de lucro final apenas R$500 mil, mas esse valor pode crescer muito após um planejamento fiscal mais adequado e a renegociação do crédito para ter juros e parcelas menores, dependendo do grau de endividamento.

Por isso, entender a formação de um EBITDA é essencial ao fazer o valuation de empresas de médio e grande portes, pois ajuda a apresentar o real potencial de valorização e rentabilidade do negócio.

Resumo das diferenças entre SDE x EBITDA

Só para ajudar a facilitar o entendimento entre os dois conceitos, vamos deixar uma “colinha” para você a seguir:

O que são?

  • SDE: métrica que soma o EBITDA com despesas como o salário/pró-labore do dono de um pequeno negócio e gastos não relacionados com o desempenho profissional, para representar de maneira mais real a lucratividade do negócio;
  • EBITDA: lucros da empresa antes da incorrência de juros, impostos, depreciação de patrimônio e amortização de dívida.

Quando são usados?

  • SDE: é majoritariamente usado no Método dos Ganhos Discricionários (renda efetiva do sócio), uma forma de valuation pensada para pequenas empresas para demonstrar seu potencial real;
  • EBITDA: é constantemente usado na gestão de empresas e na avaliação de negócios na Bolsa de Valores. Dentro do setor de valuation, entretanto, é usado para encontrar o valor de negócios de médio porte.

O que o comprador de uma empresa pode obter de ambos?

  • SDE: pode enxergar a receita e lucro potencial da empresa caso altere o pró-labore/salário e outros gastos quando for dono do negócio;
  • EBITDA: pode enxergar o potencial de lucro e geração de caixa quando alterar o regime fiscal, renegociar dívidas e mais.

Conclusão

Agora que já entendemos o que é SDE, o que é Método dos Ganhos Discricionários e, principalmente, qual a diferença entre SDE x EBITDA, ficou mais fácil compreender qual métrica deve ser usada no valuation do seu negócio.

Caso você esteja pensando em comprar sua empresa, tenha em mente o porte do seu negócio e solicite do potencial vendedor a métrica correta, bem como os documentos contábeis adequados. 

Analise o valor e leve em consideração como ele é formado para entender melhor o contexto da empresa que vai comprar — e as oportunidades disponíveis.

Já se você planeja vender seu negócio, trabalhe na comprovação dos valores que compõem seu SDE ou EBITDA. Tenha em mente que esses montantes são centrais no cálculo do valuation do seu negócio e inicie a negociação com um valor de venda realista baseado nessas métricas.