A economia foi profundamente impactada pela pandemia de Covid-19 e com isso a procura por mais informações em relação à dividas das empresas cresceu exponencialmente. Portanto, conhecer o grau de endividamento é essencial para identificar os principais desafios de sua empresa e se preparar financeiramente para o futuro.
Segundo dados recentes, as dívidas das empresas no Brasil cresce 50% em dez anos, chegando a R$ 1,213 trilhão.
Sendo assim, é de suma importância que os investidores avaliem estes índices para saber se a empresa é altamente alavancada ou sub alavancada. Muitas empresas têm sérios problemas devido a um alto grau de endividamento, o que compromete o retorno a longo prazo do acionista, por exemplo.
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O que é endividamento?
Uma empresa possui vários bens e direitos, suas instalações, estoque, dinheiro em caixa, veículos, móveis e utensílios, ferramentas, máquinas, equipamentos, valores a receber, enfim, os direitos a receber.
Os bens e direitos formam o Ativo de uma empresa, ou seja, tudo o que mencionamos acima seriam esses ativos. Sendo que, esses ativos foram obtidos por meio de capital próprio e também capital de terceiros (outras pessoas ou instituições).
E a grande questão é: qual é o percentual dessas obrigações exigíveis? Ou então, quantos destes bens e direitos foram obtidos com capital de terceiros/empréstimos bancários?
Aí está o nosso endividamento.
O que é grau de endividamento?
Como vimos acima, este grau de endividamento nada mais é do que um indicador que mostra a saúde financeira de uma empresa. Ou seja, basicamente, trata-se da relação entre o capital de terceiros, o capital próprio de uma empresa e o resultado que ela através de sua operação.
E a partir da análise deste indicador, é possível identificar as causas do endividamento e criar estratégias para lidar com este cenário preocupante.
Quanto maior for o capital de terceiros, isto é, quanto maior for as obrigações exigíveis em relação ao capital próprio (obrigações não exigíveis) maiores serão as dívidas da empresa.
Para isso, vamos trazer um exemplo para que não haja dúvidas.
Digamos que temos o Balanço Patrimonial de uma empresa chamada “Alfa”.
Apenas reforçando que o balanço patrimonial é o principal balanço financeiro de uma empresa e é um relatório que segue a legislação em vigor, em que através dele, a empresa consegue mostrar como são os seus ativos, detalhando a situação financeira atual.
Retomando o exemplo, vamos considerar que a empresa Alfa tem um Ativo (Bens e Direitos) no valor de R$10.000.
Porém, a empresa possui obrigações exigíveis (capital de terceiros) no valor de R$4.500 e um patrimônio líquido de R$ 5.500.
Somando esses valores, temos o Total do Passivo + Patrimônio Líquido no valor de R$10.000.
Neste caso, conseguimos observar que o Total do Ativo é igual ao Total do Passivo + o Patrimônio Líquido.
E agora, vem a seguinte questão… Qual o grau de endividamento da empresa Alfa?
Você já entendeu que a fórmula para calcular o grau de endividamento é:
Grau de Endividamento = CAPITAL DE TERCEIROS / TOTAL DE ATIVO, ou seja, no nosso exemplo, a fórmula ficaria:
Grau de Endividamento = 4.500 / 10.000, cujo resultado daria 45%.
Então, no nosso exemplo fictício, o Grau de Endividamento da empresa Alfa seria de 45%.
Ou seja, 45% dos bens da empresa pertencem, na verdade, a terceiros.
Grau de endividamento: Quais as vantagens e desvantagens de capital de terceiros?
Um questionamento interessante que podemos fazer é, será que o endividamento é realmente necessário? A resposta é, depende!
Como pontos positivos, podemos citar que o capital de terceiros pode ser importante para o aumento da cadeia produtiva, seja para pagar salários atrasados ou até mesmo na compra de novos equipamentos, contratação de mais funcionários, entre outros.
Também não podemos ignorar os raros períodos onde é mais “barato” contrair um empréstimo junto ao banco do que atrair um eventual investidor e assim ter que abrir mão de uma parte da sociedade da sua empresa.
Porém, há também pontos negativos que você deve ter atenção. Uma vez que, empresas que recorrem a capital de terceiros para saldar dívidas existentes são sérias candidatas à insolvência/falência.
Na hora de optar por capital de terceiros, o melhor que você pode fazer para atrair esse investimento e convencer que seu negócio é sólido e com bom potencial é através de um business valuation.
Quais são os indicadores de endividamento?
Os indicadores de endividamento fazem parte dos indicadores de análise financeira. Logo, se você analisar sua empresa, precisará calcular esses indicadores.
Quando falamos de endividamento, estamos olhando de maneira específica para o passivo da empresa.
E endividamento de fato, está representando as dívidas de uma empresa. Dentro do balanço patrimonial, no passivo as contas que representam as obrigações de uma empresa são o passivo circulante e o passivo não circulante.
Lembrando que o passivo circulante são as obrigações de curto e o passivo não circulante são as obrigações de longo prazo.
Então, basicamente se eu quero identificar quanto é o endividamento de uma empresa, eu vou olhar então para esses grupos de conta, o passivo circulante e o não circulante.
Lá dentro do passivo total, existe também o patrimônio líquido, mas ele representa o capital próprio da entidade, conforme já mostramos no artigo.
Existem 2 indicadores clássicos na análise de endividamento das empresas. Neste caso, são:
- Endividamento Geral ou Total da Empresa, que também é conhecido como Participação do Capital de Terceiros nos recursos totais da empresa (PCT).
- Composição do Endividamento, que mostra pra gente o quanto das dívidas vencem no curto prazo (passivo circulante).
Para a análise de indicadores do Endividamento Geral ou Participação do Capital de Terceiros, nós calculamos da seguinte maneira:
PCT = PC (Passivo Circulante) + PNC (Passivo Não Circulante) / Passivo Total
Então, agora vamos considerar a empresa Beta.
Para esta empresa, nós temos na fórmula do PCT os seguintes dados:
PCT = R$ 30.000 + R$ 70.000 / R$ 500.000
Neste caso então, a gente consegue identificar que o endividamento geral da empresa nos recursos totais desta entidade é de 20%.
Já para o segundo indicador que citamos, que seria a Composição do Endividamento, que permite você entender melhor o quanto dessas obrigações que são 20% no total do passivo da empresa, o quanto dessas obrigações vencem em curto prazo.
E aí, eu aplico a composição do endividamento para conseguir identificar. Para aplicar a composição do endividamento (CE), temos a seguinte fórmula:
CE = PC (Passivo Circulante) / PC (Passivo Circulante) + PNC (Passivo Não Circulante)
Ainda no exemplo da empresa Beta, a fórmula ficaria:
CE = R$30.000 / R$ 30.000 + R$ 70.000
Teríamos então que, a empresa tem uma composição do endividamento de 30%, portanto, 30% das obrigações vencem em curto prazo.
Interpretando o resultado do grau de endividamento (GE)
É claro que cada empresa tem suas características e devemos analisar todo o contexto para entender melhor como anda a questão do endividamento.
De qualquer forma, separamos alguns pontos que podem ser interessantes quando estivermos analisando os dados apresentados.
- Aumento do Grau de Endividamento (GE) pode ser positivo se estiver ligado à ampliação de sua capacidade produtiva.
- O aumento do GE ocorre em paralelo com o aumento ativo imobilizado.
- Aumento dos juros pode afetar empresa com elevado GE.
- Se houver aumento do GE sem nenhuma compensação na coluna de ativos da empresa, é uma forte indicação que a empresa está indo mal. Pois, ela está tomando endividamento a longo prazo para pagar seu custo operacional e ela não está adquirindo máquinas, equipamentos, terrenos, todos os tipos de imobilizados que possam aumentar a sua capacidade de produção.
Dicas para diminuir o grau de endividamento
A falta de conhecimento e de controle financeiro leva as empresas a uma situação de endividamento.
E sair desta situação não é fácil. É preciso muita organização, planejamento e corte de custos para colocar a empresa de volta no caminho certo.
Se sua empresa está passando por algum grau de endividamento, há algumas medidas que você pode tomar.
1. Entenda as causas do endividamento
Você não pode procurar uma solução sem conhecer a raiz do problema. Faça um diagnóstico completo dos investimentos e das finanças de sua empresa. Se sua empresa for pequena e não tiver experiência, procure a ajuda de um especialista.
2. Avalie o que pode ser cortado ou reduzido.
Saiba como separar o que é realmente necessário para que sua empresa funcione do que é supérfluo. Ou, caso o corte não seja possível, opte por materiais mais baratos.
Faça algumas pesquisas para encontrar bons fornecedores e a melhor relação custo-benefício. Incentivar os funcionários a fazer o uso adequado dos produtos.
3. Invista na integração de setores
Muitas vezes o principal problema em uma empresa é que os setores não falam uns com os outros. Ninguém sabe o que está acontecendo, a comunicação é cheia de barulho e os profissionais não interagem entre si.
Portanto, implemente ações voltadas para a integração e cooperação. Realizar reuniões estratégicas, comunicar-se melhor com cada funcionário ou líder do setor, investir mais em ferramentas de comunicação.
4. Estabelecer prioridades
Em tempos de dificuldade, é necessário estabelecer prioridades para poder concentrar-se na solução das mesmas.
Se sua organização tem mais de uma dívida, pense em quais precisam ser pagas com mais urgência. Use critérios como custo, juros, período de endividamento e riscos potenciais (ações judiciais, por exemplo).
Conclusão
Neste artigo, você conseguiu entender que o endividamento está relacionado com as decisões estratégicas da empresa, que estão envolvidas nas decisões financeiras de investimento, financiamento e distribuição de dividendos.
Estes índices são importantes para os investidores, cujos investimentos de capital em uma empresa podem estar em risco se o nível de endividamento for muito alto. Os financiadores também são ávidos usuários destes rácios para determinar o grau de risco dos fundos emprestados.
Baixos índices de endividamento, em comparação com outras empresas do mesmo setor, podem indicar que a empresa deve dedicar uma parte significativa de seu fluxo de caixa para pagar o principal e os juros sobre essa dívida.
Caso tenha ficado em dúvida sobre os conceitos de ativo, passivo, temos um conteúdo que aborda as principais demonstrações diferenças entre essas demonstrações contábeis, inclusive mostrando porquê o patrimônio líquido é considerado passivo, que pode ser útil para você!
Obrigado pela leitura.